top of page
antropologia
Luiz Marins

Um pacto ético para o Brasil

A crise brasileira não me parece ser estrutural e sim conjuntural. Temos todos os ingredientes básicos para o sucesso e no entanto não conseguimos fazer as coisas ocorrerem no trivial do dia-a-dia. A verdade é que não somos um povo de segunda categoria, nem atávicos vagabundos, nem desprovidos de bom-senso. O que parece estar nos faltando é um PACTO ÉTICO, onde todas as pessoas se comprometessem a ser menos “espertas” e mais honestas e verdadeiras. Esse PACTO ÉTICO incluiria coisas muito simples a que todo o povo brasileiro poderia se obrigar, tais como:

 

  1. cumprir a palavra;

  2. cumprir os horários e prazos;

  3. não mentir;

  4. ser honesto em todos os aspectos;

  5. jogar o lixo no lixo;

  6. devolver o emprestado;

  7. respeitar as outras pessoas;

  8. dizer “com licença”, “por favor” e “obrigado(a)”;

  9. cumprir com suas obrigações sem dar desculpas;

  10. etc. etc.

 

Não seria preciso nada mais complexo do que isso e o Brasil seria, sem dúvida o melhor País do mundo para se viver. Como todos queremos enganar a todos, todos somos enganados e não nos apercebemos disso. “Eu finjo que prometo e você finge que acredita na minha promessa...” disse-me uma vez um amigo ao fazermos um negócio.

Parar de enganar, de ludibriar, de “levar vantagem em tudo”, de prometer o que não se poderá cumprir é uma exigência que o Brasil como um todo está sentindo. A crise que estamos vivendo é uma crise ética. Ninguém mais acredita em ninguém e consequentemente em nada. Daí o desejo de ir embora do País, de emigrar. E seria tão simples se todos nós brasileiros em nosso próprio benefício decidíssemos mudar.

O encanador vai até sua casa consertar um vazamento e o cano continua vazando. Fingiu que consertou... O mecânico ficou dois dias com o seu carro e tudo continua como antes... fingiu que arrumou... A faxineira passou o dia na sua casa e apenas fingiu que limpou. O professor passou 50 minutos na sala de aula com os alunos e... fingiu que ensinou.

E hoje tudo está sendo justificado pelas “condições de trabalho”. O professor não ensina porque não tem “condições de trabalho”, ganha pouco, etc. O encanador não conserta o cano porque os “materiais não prestam”; a faxineira não limpa sua casa porque é oprimida e ganha pouco. E assim todos justificamos tudo em função das chamadas “estruturas arcaicas” ou o nome que queiramos dar e ninguém cumpre nada totalmente.

Confesso que não sei como poderíamos chegar a um PACTO ÉTICO, mas tenho a certeza de que ele poderia resolver boa parte de nossos problemas cotidianos. Sem ele continuaremos nesta luta de “esperteza” onde todos sabem que estão perdendo, mas fingem estar ganhando.

Muitos dirão que o PACTO ÉTICO deveria começar dos governos, dos políticos. Também acredito. Mas esperar mais uma vez dos governos e dos políticos significa se auto enganar e também fingir que vá acontecer alguma coisa. Todos sabemos que os governantes são os principais responsáveis pelo estado de ânimo e das coisas que estão a ocorrer. Porém se o povo, se nós, não assumirmos uma postura de mudança, independentemente dos governos, vamos outra vez fingir e acreditar na mentira.

Imagino que pudéssemos lançar uma campanha nacional pelo PACTO ÉTICO. Mandaríamos confeccionar botões de lapela ou adesivos e as pessoas dispostas a começar a mudar usariam esses botões de lapela com os dizeres “PARTICIPO DO PACTO ÉTICO” e isso poderia significar que aquela pessoa está comprometida em mudar, em cumprir horários, em cumprir a palavra, em não mentir, em não trapacear, etc. Lojas poderiam ter adesivos do PACTO ÉTICO e isso significaria que elas cumprirão a palavra com seus clientes, cumprirão prazos de entrega, oferecerão reais garantias aos produtos que vendem, etc.

O momento pós-eleição parece ser oportuno para esse movimento nacional pela ética, individual e coletiva, que poderá nos salvar da esperteza perde-perde em que estamos todos metidos.

Pense nisso. Sucesso!

bottom of page